Nesta quarta-feira, 24 de janeiro de 2024, a Argentina viveu uma greve geral convocada pela maior central sindical do país, a Confederação Geral do Trabalho (CGT), contra as medidas econômicas do governo do presidente ultraliberal Javier Milei. A paralisação contou com o apoio de outras entidades sindicais, movimentos sociais e partidos de oposição, e afetou diversos setores, como transporte, comércio, saúde, educação, energia e comunicação. Os manifestantes realizaram marchas e protestos em várias cidades do país, especialmente na capital Buenos Aires, onde se concentraram na Praça do Congresso. Neste artigo, vamos explicar os principais motivos e as possíveis consequências da greve na Argentina.
O que motivou a greve?
A greve foi motivada pelo descontentamento dos trabalhadores e da sociedade civil com as medidas anunciadas pelo governo Milei, que assumiu o poder em dezembro de 2023, após vencer as eleições com uma plataforma de redução do Estado, liberalização da economia e combate à inflação. Entre as medidas contestadas pelos grevistas, estão:
- O Decreto Nacional de Urgência (DNU), que revoga ou modifica mais de 300 leis aprovadas pelo Congresso, dando ao Executivo poderes legislativos nas áreas econômica, fiscal, tarifária e até eleitoral. O DNU foi considerado inconstitucional e autoritário pelos críticos, que acusam Milei de violar a separação de poderes e a democracia.
- O projeto de lei apelidado de "Lei Ônibus", que contém quase 500 artigos e propõe uma série de reformas estruturais, como a trabalhista, a previdenciária, a tributária, a administrativa e a educacional. O projeto foi enviado ao Congresso pelo governo, que pretende aprová-lo até 15 de fevereiro, mas enfrenta resistência de vários setores, que alegam que as reformas prejudicam os direitos e os benefícios dos trabalhadores, dos aposentados, dos estudantes e dos mais pobres.
- O plano de privatização de empresas estatais, que prevê a transformação de todas as companhias públicas em sociedades anônimas e a revogação da lei que proibia as privatizações, abrindo caminho para a venda de ativos estratégicos, como a companhia aérea Aerolíneas Argentinas, a empresa de saneamento AySA, a petrolífera YPF, a empresa de energia elétrica ENARSA, entre outras. Os opositores ao plano argumentam que as privatizações vão gerar desemprego, aumento de tarifas, perda de soberania e dependência externa.
Quais foram os impactos da greve?
A greve teve um forte impacto na Argentina, que já enfrenta uma grave crise econômica e social, agravada pela pandemia de covid-19. Segundo estimativas da CGT, a adesão à paralisação foi de cerca de 80% dos trabalhadores, o que representou uma perda de produção de cerca de US$ 1 bilhão. Alguns dos efeitos da greve foram:
- A interrupção do transporte público de passageiros, que afetou milhões de pessoas que dependem desse serviço para se locomover. Os ônibus, os trens, os metrôs e os táxis pararam de circular entre 19h e 00h, horário de pico na Argentina. Os voos domésticos e internacionais também foram cancelados ou reprogramados, afetando milhares de passageiros, inclusive brasileiros.
- O fechamento do comércio, da indústria, dos bancos, das escolas, dos hospitais e de outros serviços essenciais, que deixaram de funcionar ou funcionaram parcialmente durante a greve. Os sindicatos garantiram apenas o atendimento de emergências e de casos graves. Os postos de gasolina, os supermercados, as farmácias e os restaurantes também foram afetados pela falta de abastecimento e de clientes.
- Os protestos e os confrontos nas ruas, que geraram tensão e violência em alguns pontos do país. Os manifestantes bloquearam estradas, pontes, avenidas e acessos à capital, dificultando o trânsito e causando congestionamentos. Em alguns locais, houve enfrentamentos entre os grevistas e as forças de segurança, que usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os grupos. Houve registros de feridos, detidos e danos materiais.
Quais podem ser as consequências da greve?
A greve pode ter consequências políticas, econômicas e sociais para a Argentina, que vive um momento de instabilidade e incerteza. Algumas das possíveis consequências são:
- O enfraquecimento do governo Milei, que enfrenta sua primeira grande crise desde que assumiu o poder. A greve mostrou a insatisfação e a resistência de uma parcela significativa da população com as medidas do presidente, que tem baixa popularidade e apoio no Congresso. Milei pode ter dificuldades para aprovar suas reformas e para governar o país, que está dividido e polarizado.
- O aumento da pressão social, que pode levar a novas mobilizações e conflitos no país. A greve foi apenas o início de um calendário de lutas dos sindicatos e dos movimentos sociais, que prometem continuar nas ruas até que o governo recue de suas medidas. A situação pode se agravar se o governo reprimir os protestos ou se radicalizar em sua agenda.
- O agravamento da crise econômica, que pode se refletir em mais inflação, desemprego, pobreza e endividamento. A greve afetou a atividade produtiva, o consumo, o comércio, o turismo e a arrecadação fiscal do país, que já está em recessão há três anos. Além disso, a greve pode afastar investidores e credores internacionais, que veem com desconfiança a situação da Argentina.
Conclusão
A greve geral na Argentina foi um marco na história recente do país, que vive um momento de mudança e de desafio. A greve expressou o descontentamento e a oposição de uma parte da sociedade com as medidas do governo Milei, que pretende implementar um modelo econômico ultraliberal e reduzir o papel do Estado. A greve teve um forte impacto na Argentina, que já enfrenta uma grave crise econômica e social, e pode ter consequências políticas, econômicas e sociais para o futuro do país. O governo e os sindicatos terão que dialogar e negociar para encontrar soluções para os problemas e para evitar um aprofundamento do conflito.
Referências
(1) Greve geral na Argentina: Governo monta postos de controle, mas não evita protestos e tensão nos pontos de acesso à capital. https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/01/24/greve-geral-na-argentina-governo-monta-postos-de-controle-mas-nao-evita-protestos-e-tensao-nos-pontos-de-acesso-a-capital.ghtml.
(2) Argentina entra em greve geral contra o governo Milei nesta quarta. https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2024-01-24/argentina-greve-geral-governo-milei.html.
(3) Greve geral na Argentina: sindicatos protestam contra medidas econômicas de Milei. https://www.redetv.uol.com.br/jornalismo/mundo/greve-geral-na-argentina-sindicatos-protestam-contra-medidas-economicas-de-.
(4) Greve geral na Argentina: sindicatos param nesta quarta; governo Milei .... https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/greve-geral-na-argentina-sindicatos-param-nesta-quarta-governo-milei-pede-para-argentinos-trabalharem/.
(5) Greve na Argentina: Entenda os motivos da paralisação desta quarta .... https://valor.globo.com/mundo/noticia/2024/01/24/greve-argentina-2024-motivos.ghtml.
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