O ano de 2024 será marcado por eleições em países que representam mais da metade da população mundial, em um cenário de instabilidade, polarização e transformação.
O ano de 2024 promete ser um dos mais movimentados e decisivos da história política mundial. Cerca de metade da população mundial, 49% segundo cálculos da AFP¹, terá eleições em 2024. Por volta de 30 países vão eleger um presidente. Também estão previstas eleições legislativas em cerca de 20 deles¹.
Essas eleições ocorrerão em um contexto internacional conturbado pelo conflito russo-ucraniano, a guerra entre Hamas e Israel, a crise econômica e social provocada pela pandemia de Covid-19, o avanço das mudanças climáticas, o aumento das tensões entre as grandes potências, o surgimento de novas tecnologias e formas de comunicação, e o desafio da desinformação e das manipulações relacionadas com a inteligência artificial (IA)².
Neste artigo, vamos destacar alguns dos principais pleitos que podem definir o rumo do mundo em 2024, e quais são os seus principais desafios e oportunidades.
Estados Unidos: um duelo de revanche?
Em 5 de novembro, dezenas de milhões de americanos comparecerão às urnas para escolher os integrantes do Colégio Eleitoral, responsáveis por eleger o inquilino da Casa Branca. Esta 60ª eleição presidencial americana terá um ar de déjà-vu, com a revanche esperada entre o presidente democrata Joe Biden, de 81 anos, e seu antecessor republicano, Donald Trump, de 77¹.
Este possível enfrentamento entre veteranos será escrutinado com a perspectiva das polêmicas e informações falsas que marcaram a eleição presidencial de 2020. Trump jamais reconheceu sua derrota e alguns americanos seguem convencidos de que seu voto foi "roubado"².
O resultado da eleição de 2024 terá um impacto profundo na política interna e externa dos Estados Unidos, e na sua relação com o resto do mundo. Biden tem defendido uma agenda de cooperação multilateral, de combate à pandemia e às mudanças climáticas, de defesa dos direitos humanos e da democracia, e de moderação no uso da força militar³. Trump, por sua vez, tem defendido uma agenda de isolacionismo, de confronto com a China e o Irã, de negação da ciência e do aquecimento global, de restrição à imigração e ao comércio, e de apoio a líderes autoritários⁴.
Rússia: oposição amordaçada
Embora não tenha anunciado oficialmente, não há dúvida, segundo os observadores, de que Vladimir Putin será candidato a um novo mandato na eleição presidencial prevista para março¹. Putin, que está no poder desde 2000, entre mandatos de presidente e de primeiro-ministro, conseguiu em 2020 uma reforma constitucional que lhe permite concorrer a mais dois mandatos de seis anos cada, até 2036⁵.
A oposição russa, que já enfrentava uma forte repressão do regime, ficou ainda mais enfraquecida após a prisão e o exílio do principal líder opositor, Alexei Navalny, que sobreviveu a um envenenamento atribuído ao Kremlin em 2020. Navalny e seus aliados foram proibidos de participar das eleições, e seus apoiadores foram alvo de perseguição e violência.
A eleição de 2024 será um teste para a legitimidade de Putin, que tem enfrentado protestos populares, uma queda na popularidade, uma crise econômica e sanitária, e um aumento da pressão internacional por causa da sua intervenção na Ucrânia, na Síria e em outros países. Putin tem buscado afirmar o seu papel de líder global, desafiando os Estados Unidos e a União Europeia, e se aproximando da China e de outros regimes autoritários.
Brasil: uma escolha entre extremos?
Em outubro, o Brasil realizará a sua sétima eleição presidencial desde o fim da ditadura militar em 1985. O pleito será marcado pela polarização entre o presidente Jair Bolsonaro, que tentará a reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que recuperou os seus direitos políticos após ter sido condenado e preso por corrupção em um processo considerado parcial pelo Supremo Tribunal Federal.
Bolsonaro e Lula representam dois projetos antagônicos para o país. Bolsonaro é um defensor do liberalismo econômico, do conservadorismo social, do militarismo, do nacionalismo, do negacionismo científico, e de uma aliança incondicional com os Estados Unidos e Israel. Lula é um defensor do desenvolvimentismo, do progressismo, do pacifismo, do multilateralismo, do ambientalismo, e de uma política externa independente e diversificada.
A eleição de 2024 será crucial para o futuro do Brasil, que enfrenta uma grave crise política, econômica, social e ambiental, agravada pela pandemia de Covid-19, que já matou mais de 600 mil brasileiros. O país também vive um clima de instabilidade institucional, com ameaças de ruptura democrática por parte de Bolsonaro e seus apoiadores, que não aceitam o sistema eleitoral e acusam fraudes sem provas.
China: uma consolidação do poder de Xi Jinping
Em novembro, a China realizará o seu 20º Congresso Nacional do Partido Comunista, que definirá a liderança do país para os próximos cinco anos. O evento será uma oportunidade para o presidente Xi Jinping, que está no cargo desde 2013, consolidar o seu poder e garantir um terceiro mandato, rompendo com a tradição de limitar o tempo de permanência no topo do partido.
Xi Jinping é considerado o líder mais poderoso da China desde Mao Tsé-Tung, o fundador da República Popular da China em 1949. Ele tem promovido uma agenda de fortalecimento do partido, de combate à corrupção, de expansão econômica, de modernização militar, de repressão aos dissidentes, de controle da informação, de defesa da soberania, e de projeção internacional.
A China é hoje a segunda maior economia do mundo, e tem se tornado cada vez mais influente e assertiva no cenário global. O país tem disputado com os Estados Unidos a liderança em áreas como tecnologia, comércio, segurança, direitos humanos e mudanças climáticas. A China também tem enfrentado tensões com países vizinhos e com a comunidade internacional por causa de questões como Taiwan, Hong Kong, Tibete, Xinjiang, Mar do Sul da China e Covid-19.
Outras eleições relevantes
Além dessas, outras eleições importantes ocorrerão em 2024, como as de:
Referências
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