domingo, 21 de janeiro de 2024

Temporal no Rio de Janeiro em 2024: uma tragédia anunciada





O Rio de Janeiro viveu mais um episódio de caos e destruição causado pelas fortes chuvas que atingiram o estado no último fim de semana. O temporal deixou pelo menos 12 mortos e uma mulher desaparecida, alagou um hospital, fechou uma rodovia e mobilizou cerca de 2.400 militares do Corpo de Bombeiros em uma operação de resgate e auxílio às vítimas. Mas essa não foi a primeira vez que o Rio sofreu com as consequências de um fenômeno climático extremo. A situação se repete há anos, sem que medidas efetivas sejam tomadas para prevenir e mitigar os impactos das chuvas na cidade e na região metropolitana.


As causas do temporal


O temporal que castigou o Rio de Janeiro foi provocado por uma combinação de fatores meteorológicos e geográficos. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), uma frente fria vinda do Sul do país se encontrou com uma massa de ar quente e úmido que vinha do Oceano Atlântico, formando nuvens carregadas que se deslocaram em direção ao estado. Além disso, a orografia do Rio, com montanhas e vales, favoreceu a formação de chuvas intensas e localizadas, especialmente na Zona Norte e na Baixada Fluminense, onde foram registrados os maiores acumulados de precipitação.


Os efeitos do temporal


O temporal causou diversos transtornos e prejuízos para a população e para a infraestrutura do Rio de Janeiro. Entre os efeitos mais graves, estão:

- Inundações e alagamentos: várias ruas e avenidas ficaram debaixo d'água, impedindo a circulação de veículos e pedestres. O Hospital Ronaldo Gazolla, em Acari, ficou completamente alagado, com pacientes sendo transferidos às pressas para outras unidades de saúde. A Avenida Brasil, uma das principais vias de acesso à cidade, foi interditada por causa da água que invadiu a pista.
- Deslizamentos e desabamentos: as chuvas provocaram o desmoronamento de encostas e de construções precárias, soterrando casas e pessoas. Em Anchieta, um dos bairros mais atingidos, uma família inteira morreu após o desabamento de uma casa. Em Belford Roxo, uma mulher está desaparecida depois que um barranco deslizou sobre sua residência.
- Cortes de energia e de comunicação: a rede elétrica e de telefonia foi afetada pelas chuvas, deixando milhares de pessoas sem luz e sem sinal de celular. Em alguns locais, os moradores relataram que ficaram mais de 24 horas sem energia, o que dificultou o contato com os serviços de emergência e com os familiares.
- Interrupção de serviços essenciais: as chuvas também prejudicaram o funcionamento de serviços públicos e privados, como transporte, educação, saúde, comércio e lazer. O prefeito Eduardo Paes decretou situação de emergência na cidade e pediu que a população evitasse se deslocar, sobretudo na Zona Norte. O ensaio técnico das escolas de samba na Sapucaí foi cancelado, assim como as aulas nas redes municipal e estadual de ensino.


As consequências do temporal


O temporal deixou marcas profundas na vida das pessoas que perderam seus entes queridos, seus bens materiais e sua dignidade. Muitos moradores tiveram que abandonar suas casas e buscar abrigo em locais improvisados, como escolas, igrejas e ginásios. Outros tiveram que enfrentar a falta de água potável, de alimentos, de roupas e de medicamentos. Além do sofrimento físico e material, há também o trauma psicológico e emocional de viver uma situação de calamidade pública.

O temporal também trouxe prejuízos econômicos e ambientais para o Rio de Janeiro. Segundo estimativas da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o custo das chuvas para o setor produtivo pode chegar a R$ 1,5 bilhão, considerando os danos à infraestrutura, à produção e ao consumo. Já o impacto ambiental se reflete na poluição dos rios, das lagoas e das praias, causada pelo escoamento de lixo, de esgoto e de sedimentos das áreas alagadas.


As soluções para o temporal


O temporal que assolou o Rio de Janeiro em 2024 não foi um evento isolado e imprevisível. Foi mais um capítulo de uma história que se repete há anos, sem que medidas efetivas sejam tomadas para prevenir e mitigar os impactos das chuvas na cidade e na região metropolitana. Para evitar que novas tragédias aconteçam, é preciso que haja uma ação conjunta e integrada dos governos federal, estadual e municipal, da sociedade civil e da iniciativa privada, com foco em quatro eixos:

- Planejamento urbano: é fundamental que se faça um ordenamento territorial que respeite as características geográficas e climáticas do Rio de Janeiro, evitando a ocupação irregular e a impermeabilização do solo. Também é necessário que se invista em obras de drenagem, de contenção de encostas e de recuperação de áreas degradadas, além de se criar um sistema de alerta e de evacuação para as áreas de risco.
- Educação ambiental: é imprescindível que se promova uma conscientização da população sobre a importância de preservar o meio ambiente e de reduzir a geração de resíduos. Também é preciso que se incentive a participação cidadã na fiscalização e na denúncia de irregularidades, bem como na colaboração com as autoridades em situações de emergência.
- Adaptação às mudanças climáticas: é inevitável que se reconheça que o clima está mudando e que isso traz consequências para o Rio de Janeiro. É preciso que se adote medidas de adaptação, como o uso de energias renováveis, a captação de água da chuva, a implantação de telhados verdes e a criação de áreas verdes urbanas, que ajudam a amenizar as ilhas de calor e a absorver a água da chuva.
- Responsabilização dos culpados: é indispensável que se apure as responsabilidades pelos danos causados pelo temporal, tanto na esfera administrativa quanto na esfera judicial. É preciso que se puna os agentes públicos e privados que negligenciaram suas obrigações, que se indenize as vítimas e que se cobre a reparação dos prejuízos.

O temporal no Rio de Janeiro em 2024 foi uma tragédia anunciada, mas que poderia ter sido evitada ou minimizada. Para que não se torne uma tragédia esquecida, é preciso que se aprenda com os erros e que se aja com urgência e com compromisso. O Rio de Janeiro merece e precisa de uma cidade mais resiliente, mais sustentável e mais humana.


Referências


(1) Dois dias após temporal, Duque de Caxias (RJ) ainda tem bairros alagados. https://www.msn.com/pt-br/noticias/other/dois-dias-após-temporal-duque-de-caxias-rj-ainda-tem-bairros-alagados/ar-AA1n57sY.

(2) Corpo é encontrado em rio da zona norte do Rio após temporal no estado. https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil/corpo-%C3%A9-encontrado-em-rio-da-zona-norte-do-rj-ap%C3%B3s-temporal-no-estado/ar-AA1n4CvX.

(3) Sapucaí vai receber doações para vítimas de chuva no Rio em ensaio técnico. https://gshow.globo.com/tudo-mais/carnaval/2024/noticia/sapucai-vai-receber-doacoes-para-vitimas-de-chuva-no-rio-em-ensaio-tecnico.ghtml.

(4) Governo reconhece emergência em mais 3 cidades do Rio após ... - G1. https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/01/16/governo-decreta-emergencia-em-mais-cidades-do-rio-apos-temporal.ghtml.

(5) Temporal no RJ: operação de resposta às chuvas envolveu dois mil .... https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2024/01/15/temporal-no-rj-operacao-de-resposta-as-chuvas-envolveu-2-mil-militares-em-268-ocorrencias-no-estado.ghtml.

Nenhum comentário:

Postar um comentário