Vivemos num tempo em que tudo gira em torno do lucro. A Bolsa (A bolsa de valores é um ambiente de negociação de ativos financeiros, como ações e títulos. Ela permite que empresas captem recursos e investidores comprem e vendam participações com base nas expectativas de lucro) sobe, o PIB (O PIB (Produto Interno Bruto) é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos em um país durante um período. Ele mede a atividade econômica e o crescimento de uma nação) cresce, os investidores comemoram. Mas será que já parou pra pensar de onde vem toda essa "riqueza"? A resposta está bem debaixo dos nossos pés. Literalmente. Sem a terra, a água, o ar, as florestas e os minérios, não haveria empresa, lucro ou crescimento algum. Nada. O que sustenta o mundo é a natureza. E o mais impressionante é que ela raramente está no centro das nossas discussões.
Vamos combinar: a gente costuma esquecer que é da natureza que vem tudo. Um copo d'água. O arroz no prato. O ferro do carro. O algodão da camiseta. Tudo. E não é de hoje que a disputa por esses recursos alimenta guerras e cria muros entre povos. Petróleo, ouro, terras, água doce... Recursos naturais são moeda de poder. Se tirássemos da história os conflitos motivados por eles, boa parte dos livros escolares viraria poeira.
Mas sabe o que é pior? O sistema econômico que a gente chama de liberal reforça a ideia de que o mercado dá conta de tudo. Que o capital regula, precifica, equilibra. E assim, o que era sagrado vira mercadoria. A floresta vira madeira. A água, commodity. O solo, um ativo. A lógica do lucro transforma a natureza em produto de prateleira. E a gente segue consumindo como se o planeta fosse um shopping infinito.
Talvez seja essa a maior armadilha: achar que o mercado tem coração. Não tem. Ele não entende de escassez real, de biodiversidade, de culturas tradicionais, de povos originários. Ele entende de oferta e demanda. E a demanda é insaciável.
E aí, o que acontece? A responsabilidade coletiva vai se dissolvendo. Afinal, se é só pagar pra ter, quem vai se preocupar em preservar? Se a floresta tem preço, quem vai lutar por seu valor simbólico, espiritual, ancestral?
A natureza não segue as regras da Bolsa. Ela tem seus ciclos. Seus limites. Suas respostas. E quando ela responde, a gente sente. Enchentes, secas, pandemias, escassez. São os alertas que insistimos em ignorar.
Chegou a hora de resgatar o essencial. De lembrar que a natureza é o início, o meio e o fim. Que não existe futuro sem cuidado ambiental. Que proteger os bens naturais é garantir existência. Nossa e das gerações que vêm por aí.
No fim das contas, a pergunta que fica é simples: queremos continuar fingindo que o mercado resolve tudo? Ou vamos, enfim, colocar a natureza no centro das nossas escolhas?
Referências Bibliográficas
LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis: Vozes, 2001. PORTO-
GONÇALVES, Carlos Walter. A globalização da natureza e a natureza da globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
ACSELRAD, Henri. Justiça ambiental: discursos e práticas. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2009. LATOUCHE, Serge. A aposta do decrescimento. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.
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