Introdução
A Iugoslávia foi um país que existiu entre 1918 e 2003, na região dos Bálcãs, no sudeste da Europa. O nome significa "terra dos eslavos do sul", e abrangia diversas etnias, religiões e culturas. Durante a Guerra Fria, a Iugoslávia foi um dos poucos países socialistas que não se alinharam à União Soviética, mantendo uma certa autonomia política e econômica.
No entanto, após a morte de seu líder histórico, Josip Broz Tito, em 1980, o país entrou em uma crise que culminou em sua fragmentação, em meio a violentos conflitos étnicos e separatistas. Neste artigo, vamos entender como e por que ocorreu o fim da Iugoslávia, e quais foram as consequências para a região e para o mundo.
Josip Broz Tito
A formação da Iugoslávia
A Iugoslávia surgiu após a Primeira Guerra Mundial, como resultado da união do Reino da Sérvia com o Estado dos Eslovenos, Croatas e Sérvios, que haviam se separado do Império Austro-Húngaro. Em 1929, o rei Alexandre I mudou o nome do país para Reino da Iugoslávia, e impôs uma política centralizadora e autoritária, que desagradou as minorias nacionais. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Iugoslávia foi invadida pelas potências do Eixo, e dividida em vários Estados fantoches. No entanto, um movimento de resistência liderado por Tito, um comunista de origem croata, conseguiu expulsar os invasores e estabelecer um novo regime socialista, em 1945.
A nova Iugoslávia era uma federação de seis repúblicas: Sérvia, Croácia, Eslovênia, Macedônia, Bósnia-Herzegovina e Montenegro. A Sérvia, que era a maior e mais populosa república, tinha duas províncias autônomas: Kosovo e Voivodina. Cada república tinha sua própria constituição, parlamento, governo e bandeira, mas todas estavam subordinadas ao governo federal, que era dominado pelo Partido Comunista. Tito, que se tornou presidente vitalício em 1963, procurou equilibrar os interesses das diferentes nacionalidades, promovendo uma política de "fraternidade e unidade" entre os povos iugoslavos. Além disso, ele adotou uma postura independente em relação à União Soviética, rompendo com o bloco socialista em 1948, e aproximando-se dos países não-alinhados, como a Índia, o Egito e a Indonésia.
A crise da Iugoslávia
Após a morte de Tito, em 1980, a Iugoslávia enfrentou uma série de problemas que abalaram sua coesão interna. Entre eles, podemos citar:
- A crise econômica, causada pela dívida externa, pela inflação, pelo desemprego e pela queda do padrão de vida da população.
- A crise política, marcada pela falta de liderança, pela corrupção, pelo aumento das tensões entre as repúblicas e pela repressão aos movimentos de oposição.
- A crise nacional, caracterizada pelo ressurgimento dos sentimentos nacionalistas, especialmente na Sérvia, na Croácia e na Eslovênia, que reivindicavam mais autonomia ou até mesmo a independência.
- A crise internacional, influenciada pelo fim da Guerra Fria, pela queda do comunismo na Europa Oriental e pela emergência de novas potências regionais, como a Alemanha e a Turquia.
Esses fatores levaram a uma escalada da violência na Iugoslávia, que se tornou palco de uma sangrenta guerra civil, que durou de 1991 a 2001, e envolveu diversas forças armadas, como o Exército Popular Iugoslavo, as milícias sérvias, as forças de defesa croatas, o Exército de Libertação do Kosovo, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e a Organização das Nações Unidas (ONU).
A dissolução da Iugoslávia
O processo de dissolução da Iugoslávia ocorreu em várias etapas, conforme as repúblicas declaravam sua independência e entravam em conflito com as forças federais ou entre si. A seguir, um breve resumo de cada etapa:
- Em 1991, a Eslovênia e a Croácia proclamaram sua independência, após realizarem plebiscitos populares. A Eslovênia, que era a república mais desenvolvida e mais homogênea da Iugoslávia, conseguiu se separar com relativa facilidade, após uma breve guerra de dez dias contra o Exército Popular Iugoslavo. A Croácia, por outro lado, enfrentou uma longa e brutal guerra contra as milícias sérvias, apoiadas pelo governo federal, que controlavam cerca de um terço do território croata, onde vivia uma expressiva minoria sérvia. A guerra na Croácia durou até 1995, e deixou mais de 20 mil mortos e 400 mil refugiados.
- Em 1992, a Bósnia-Herzegovina também declarou sua independência, após um referendo boicotado pela população sérvia, que representava cerca de um terço dos habitantes. A Bósnia-Herzegovina era a república mais diversa da Iugoslávia, abrigando três principais grupos étnicos: os bósnios muçulmanos, os sérvios ortodoxos e os croatas católicos. A guerra na Bósnia-Herzegovina foi a mais sangrenta e cruel de todas, envolvendo massacres, limpezas étnicas, estupros e genocídios. O caso mais emblemático foi o massacre de Srebrenica, em 1995, quando cerca de 8 mil homens e meninos muçulmanos foram executados pelas forças sérvias, sob o comando do general Ratko Mladic. A guerra na Bósnia-Herzegovina terminou em 1995, com a assinatura dos Acordos de Dayton, que dividiram o país em duas entidades autônomas: a Federação da Bósnia-Herzegovina, formada pelos bósnios e pelos croatas, e a República Srpska, formada pelos sérvios. O saldo da guerra foi de mais de 100 mil mortos e 2 milhões de deslocados.
- Em 1993, a Macedônia se tornou independente, sem enfrentar uma resistência significativa do governo federal. No entanto, a Macedônia teve que lidar com a oposição da Grécia, que não reconhecia o nome do país, alegando que se tratava de uma usurpação de sua história e de sua cultura. A Grécia impôs um embargo econômico à Macedônia, que só foi suspenso em 1995, após um acordo que previa a mudança do nome e da bandeira do país. A Macedônia também enfrentou uma rebelião armada da minoria albanesa, que exigia mais direitos e autonomia, em 2001. O conflito foi resolvido com a assinatura do Acordo de Ohrid, que concedeu mais poderes aos albaneses na política e na educação.
- Em 1996, a República Federal da Iugoslávia, formada pela Sérvia e pelo Montenegro, foi reconhecida pela ONU, após aceitar as condições impostas pela comunidade internacional. No entanto, a situação interna do país continuou instável, devido à repressão do regime autoritário de Slobodan Milosevic, que enfrentou protestos populares e oposição política. Além disso, a questão do Kosovo, uma província sérvia habitada majoritariamente por albaneses, se tornou um foco de conflito, que resultou em uma intervenção militar da OTAN, em 1999.
Referências
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